E a meta é...
Certamente você já
ouviu ou até fez um comentário deste tipo. Meu marido e eu costumamos ouvir
comentários do gênero durante os varais fotográficos que realizamos duas vezes
ao ano na Praça da Matriz na cidade de Cunha.
Já arriscou um
palpite do que se trata? Estou falando de pessoas diante de fotografias de
borboletas, insetos ativos durante o dia e na maioria de cores vistosas, e de
mariposas, insetos de hábitos noturnos e cores apagadas.
No rosto e na voz,
encanto e espanto, apesar de que acredito tratar-se de pessoas cientes do
conjunto de transformações que acontecem durante o ciclo de vida das borboletas
e mariposas, conhecido por metamorfose. No entanto, também estou convencida de
que são pessoas que pouco toleram ovos ou lagartas em suas plantas ou casulos
“sujando” paredes ou janelas da casa. Ou seja, pessoas que, infelizmente,
inclusive sem saber, pouco contribuem para a proliferação destes insetos.
Feias ou não,
tóxicas ou não, as lagartas são necessárias para que haja borboletas ou
mariposas. Tem quem duvide, mas toda e qualquer lagarta vira borboleta ou
mariposa. E estes insetos são extremamente importantes, visto que são agentes
polinizadores e a polinização é um dos principais mecanismos de manutenção e
promoção da tão falada biodiversidade.
Quem elimina lagartas
ou casulos de seu jardim ou varanda, terá muito pouca chance de observar
borboletas ou mariposas em seu entorno. Pode até ocorrer que em dado momento
uma determinada planta deixe de produzir flor ou fruto. E aí, José?
Aí a coisa pode
ficar bem feia. Entendo perfeitamente o desgosto de ver a couve cheia de
lagartas esfaimadas. E aquela planta no vaso que amanhece sem folhas e sem
flor! Já passei por tudo isto e sei que não dá para encarar com largo sorriso
na boca. Também entendo que alguém queira suas paredes e janelas limpas,
isentas de casulos. Mas não me peçam para entender quem opta por intervir de
forma drástica, muitas vezes quimicamente, contribuindo, nem que seja
minimamente, para a extinção de tão importante inseto.
A importância dos
lepidópteros não se resume à já comentada polinização. Eles são ecologicamente
e economicamente importantes e fazem parte da cadeia ecológica na fase imatura
(ovos, lagartas e casulos) e na fase adulta. Os ovos dos lepidópteros podem ser
parasitados por outros insetos e aves. Sapos, roedores e insetos, entre outros,
podem se alimentar das lagartas. Os casulos, por sua vez, podem ser parasitados
por moscas e vespas. E não esqueçamos da importância econômica dos casulos do
bicho-da-seda asiático, com fio contínuo! Quem não teve, tem ou gostaria de ter
uma peça de seda natural? A amoreira, planta-alimento das lagartas desta
espécie, cresce bem no Brasil. Pena que o bicho-da-seda brasileiro tem fio
descontínuo!
Se cada um de nós procurar o
equilíbrio saudável, podemos conviver pacificamente com todas as fases de um
lepidóptero. Para uma plantação de maior porte, sugiro tentar o controle
biológico através de dicas encontradas na Internet.
Para um espaço com ervas destinadas ao consumo da família, aconselho algo menos
complicado, como plantas repelentes que afastam algumas lagartas do canteiro
(citronela, cravo-de-defunto, menta e coentro, entre outros). Para algo de
tamanho médio, pode-se tentar plantar alternadamente espécies que não sejam
hospedeiras da mesma praga. Ocorrerá a quebra ou interrupção do ciclo de
desenvolvimento das mesmas. Porém, dificilmente acabaremos com a espécie.
Venho observando há anos (e de
mansinho) o ciclo de vida dos lepidópteros. Sou apaixonada pelo mágico momento
da ruptura do casulo, quando um novo ser emerge e paciente aguarda a distensão e
consistência de suas asas para então fazer o reconhecimento de seu território e
encantar a todos com seu gracioso e leve voo. Se você é do tipo curioso e quer ter uma ideia melhor das
diferentes fases, sugiro acessar http://www.fotosquecontamhistorias.com.br/tag/casulo/
Quer arriscar e ter mais
borboletas ao seu redor? Procure cultivar hortaliças e flores que as atraem e aproveite
a oportunidade para observar de perto o ciclo de vida dos lepidópteros. Simplesmente
porque você merece viver em um mundo mais colorido.
Para arrematar, um curto filme cheio de vida. Meta, metamorfose!
(Renate Esslinger)