domingo, 8 de outubro de 2017

E a meta é...


Nossa, que linda! Que desenho! Puxa, que delicadeza para algo que já foi venenoso! Como é colorida! Meu Deus, que perfeição inacreditável! Que leveza! 
Certamente você já ouviu ou até fez um comentário deste tipo. Meu marido e eu costumamos ouvir comentários do gênero durante os varais fotográficos que realizamos duas vezes ao ano na Praça da Matriz na cidade de Cunha.

Já arriscou um palpite do que se trata? Estou falando de pessoas diante de fotografias de borboletas, insetos ativos durante o dia e na maioria de cores vistosas, e de mariposas, insetos de hábitos noturnos e cores apagadas.

No rosto e na voz, encanto e espanto, apesar de que acredito tratar-se de pessoas cientes do conjunto de transformações que acontecem durante o ciclo de vida das borboletas e mariposas, conhecido por metamorfose. No entanto, também estou convencida de que são pessoas que pouco toleram ovos ou lagartas em suas plantas ou casulos “sujando” paredes ou janelas da casa. Ou seja, pessoas que, infelizmente, inclusive sem saber, pouco contribuem para a proliferação destes insetos.

Feias ou não, tóxicas ou não, as lagartas são necessárias para que haja borboletas ou mariposas. Tem quem duvide, mas toda e qualquer lagarta vira borboleta ou mariposa. E estes insetos são extremamente importantes, visto que são agentes polinizadores e a polinização é um dos principais mecanismos de manutenção e promoção da tão falada biodiversidade.

Quem elimina lagartas ou casulos de seu jardim ou varanda, terá muito pouca chance de observar borboletas ou mariposas em seu entorno. Pode até ocorrer que em dado momento uma determinada planta deixe de produzir flor ou fruto. E aí, José?

Aí a coisa pode ficar bem feia. Entendo perfeitamente o desgosto de ver a couve cheia de lagartas esfaimadas. E aquela planta no vaso que amanhece sem folhas e sem flor! Já passei por tudo isto e sei que não dá para encarar com largo sorriso na boca. Também entendo que alguém queira suas paredes e janelas limpas, isentas de casulos. Mas não me peçam para entender quem opta por intervir de forma drástica, muitas vezes quimicamente, contribuindo, nem que seja minimamente, para a extinção de tão importante inseto.

A importância dos lepidópteros não se resume à já comentada polinização. Eles são ecologicamente e economicamente importantes e fazem parte da cadeia ecológica na fase imatura (ovos, lagartas e casulos) e na fase adulta. Os ovos dos lepidópteros podem ser parasitados por outros insetos e aves. Sapos, roedores e insetos, entre outros, podem se alimentar das lagartas. Os casulos, por sua vez, podem ser parasitados por moscas e vespas. E não esqueçamos da importância econômica dos casulos do bicho-da-seda asiático, com fio contínuo! Quem não teve, tem ou gostaria de ter uma peça de seda natural? A amoreira, planta-alimento das lagartas desta espécie, cresce bem no Brasil. Pena que o bicho-da-seda brasileiro tem fio descontínuo!

Se cada um de nós procurar o equilíbrio saudável, podemos conviver pacificamente com todas as fases de um lepidóptero. Para uma plantação de maior porte, sugiro tentar o controle biológico através de dicas encontradas na Internet. Para um espaço com ervas destinadas ao consumo da família, aconselho algo menos complicado, como plantas repelentes que afastam algumas lagartas do canteiro (citronela, cravo-de-defunto, menta e coentro, entre outros). Para algo de tamanho médio, pode-se tentar plantar alternadamente espécies que não sejam hospedeiras da mesma praga. Ocorrerá a quebra ou interrupção do ciclo de desenvolvimento das mesmas. Porém, dificilmente acabaremos com a espécie.

Venho observando há anos (e de mansinho) o ciclo de vida dos lepidópteros. Sou apaixonada pelo mágico momento da ruptura do casulo, quando um novo ser emerge e paciente aguarda a distensão e consistência de suas asas para então fazer o reconhecimento de seu território e encantar a todos com seu gracioso e leve voo. Se você é do tipo curioso e quer ter uma ideia melhor das diferentes fases, sugiro acessar http://www.fotosquecontamhistorias.com.br/tag/casulo/

Quer arriscar e ter mais borboletas ao seu redor? Procure cultivar hortaliças e flores que as atraem e aproveite a oportunidade para observar de perto o ciclo de vida dos lepidópteros. Simplesmente porque você merece viver em um mundo mais colorido. 

Para arrematar, um curto filme cheio de vida. Meta, metamorfose!

(Renate Esslinger)



quinta-feira, 6 de abril de 2017

O quê! Geco?

Com a permissão dos leitores, mais uma vez não falarei de aves. Decidi defender um bichinho originário da África, muito comum em todo o território nacional, inclusive em áreas urbanas.   

Geco. Assim mesmo. Se preferir, taruíra, catonga, briba, biba, osga, sardanisca ou sardanita. Vulga lagartixa. Em latim a espécie mais comum é denominada hemidactylus mabouia. Ufa, mais designações do que jamais pensei!

Pertencente à família gekkonidae (geconídeos) de répteis escamados, muito provavelmente originária da África, a lagartixa é ágil pelo chão, mas prefere paredes e consegue até ficar em tetos graças às “forças de van der Waals”, forças que realmente não pretendo explicar aqui, mas que você pode entender melhor ao procurar pelo termo na Internet. Fica a seu critério.  

Muitos qualificam a lagartixa como bicho nojento. Pobre bichinho! Tão limpo, tão inofensivo, tão útil!

Bastante higiênico, este pequeno animal não costuma constar da lista de animais ofensivos à saúde humana. Cabe, no entanto, lavar as mãos após contato com uma lagartixa. Prevenir sempre é sensato.

Seus hábitos noturnos são de grande serventia, principalmente para o meio ambiente. Afinal, a lagartixa funciona como controladora de pragas domésticas. Sabe aquela aranha e barata que você detesta? Pois é, estes dois pratos são bastante apreciados pela lagartixa. Escorpiões e os hoje mais do que nunca temidos pernilongos também fazem parte do menu deste réptil.   



Em casa a varanda torna-se um lugar aconchegante para bons espetáculos após o anoitecer. Aquele que tem paciência pode observar cenas cômicas e tragicômicas, bem como a espetacular velocidade de uma lagartixa que só se dá por vencida após devorar o inseto que virou seu alvo.

Há também momentos de total concentração e imobilidade por parte da lagartixa (e confesso que ao observar tal cena quase nem respiro). O inseto acredita estar em local super seguro e segue seu rumo normalmente. E, repentinamente, o brutal ataque. Pronto, um inseto a menos para perturbar.

Como a lagartixa consegue andar no vidro, sempre me divirto ao ver uma através do vidro de uma janela. Ou seja, eu dentro de casa, ela fora. Na maioria das vezes, neste caso, à espreita de uma mariposa de porte pequeno ou até médio. Certamente um jantar diferenciado e que tem de ser consumido lentamente em função do tamanho da presa. Aliás, por diversas vezes consegui observar que ela primeiro agita o bichinho na boca para devorá-lo morto ou, ao menos, quase morto.

Outra peculiaridade da lagartixa é a capacidade de perder a cauda, ao menos ao sentir-se ameaçada. Uma forma bem original de enganar os predadores pelo processo que leva o nome de autotomia.  Não é algo que se vê sempre, mas, acreditem ou não, há dois dias encontrei uma lagartixa sem rabo na parede do dormitório. Se você precisa ver para crer, espero que as fotos tiradas com e sem zoom sirvam de prova. Um minúsculo elemento numa parede grande e péssima iluminação. Não vale reclamar que falta qualidade. Era tarde e eu ia deitar quando decidi pegar a máquina fotográfica e fazer o registro. Sonolenta mesmo.  


 Vamos falar de inimigos. Quem não os tem? No caso da lagartixa, além de gatos domésticos e de cobras, o maior inimigo é o ser humano. Já peguei muita gente munida de grandes vassouras para dar cabo de uma ou mais lagartixas. Para ser sincera, não entendo bem a razão de tanta aversão e espero que você não passe mal ao ver as fotos. 

“Geco sim”. Porque a natureza agradece.









Renate Esslinger