quinta-feira, 6 de abril de 2017

O quê! Geco?

Com a permissão dos leitores, mais uma vez não falarei de aves. Decidi defender um bichinho originário da África, muito comum em todo o território nacional, inclusive em áreas urbanas.   

Geco. Assim mesmo. Se preferir, taruíra, catonga, briba, biba, osga, sardanisca ou sardanita. Vulga lagartixa. Em latim a espécie mais comum é denominada hemidactylus mabouia. Ufa, mais designações do que jamais pensei!

Pertencente à família gekkonidae (geconídeos) de répteis escamados, muito provavelmente originária da África, a lagartixa é ágil pelo chão, mas prefere paredes e consegue até ficar em tetos graças às “forças de van der Waals”, forças que realmente não pretendo explicar aqui, mas que você pode entender melhor ao procurar pelo termo na Internet. Fica a seu critério.  

Muitos qualificam a lagartixa como bicho nojento. Pobre bichinho! Tão limpo, tão inofensivo, tão útil!

Bastante higiênico, este pequeno animal não costuma constar da lista de animais ofensivos à saúde humana. Cabe, no entanto, lavar as mãos após contato com uma lagartixa. Prevenir sempre é sensato.

Seus hábitos noturnos são de grande serventia, principalmente para o meio ambiente. Afinal, a lagartixa funciona como controladora de pragas domésticas. Sabe aquela aranha e barata que você detesta? Pois é, estes dois pratos são bastante apreciados pela lagartixa. Escorpiões e os hoje mais do que nunca temidos pernilongos também fazem parte do menu deste réptil.   



Em casa a varanda torna-se um lugar aconchegante para bons espetáculos após o anoitecer. Aquele que tem paciência pode observar cenas cômicas e tragicômicas, bem como a espetacular velocidade de uma lagartixa que só se dá por vencida após devorar o inseto que virou seu alvo.

Há também momentos de total concentração e imobilidade por parte da lagartixa (e confesso que ao observar tal cena quase nem respiro). O inseto acredita estar em local super seguro e segue seu rumo normalmente. E, repentinamente, o brutal ataque. Pronto, um inseto a menos para perturbar.

Como a lagartixa consegue andar no vidro, sempre me divirto ao ver uma através do vidro de uma janela. Ou seja, eu dentro de casa, ela fora. Na maioria das vezes, neste caso, à espreita de uma mariposa de porte pequeno ou até médio. Certamente um jantar diferenciado e que tem de ser consumido lentamente em função do tamanho da presa. Aliás, por diversas vezes consegui observar que ela primeiro agita o bichinho na boca para devorá-lo morto ou, ao menos, quase morto.

Outra peculiaridade da lagartixa é a capacidade de perder a cauda, ao menos ao sentir-se ameaçada. Uma forma bem original de enganar os predadores pelo processo que leva o nome de autotomia.  Não é algo que se vê sempre, mas, acreditem ou não, há dois dias encontrei uma lagartixa sem rabo na parede do dormitório. Se você precisa ver para crer, espero que as fotos tiradas com e sem zoom sirvam de prova. Um minúsculo elemento numa parede grande e péssima iluminação. Não vale reclamar que falta qualidade. Era tarde e eu ia deitar quando decidi pegar a máquina fotográfica e fazer o registro. Sonolenta mesmo.  


 Vamos falar de inimigos. Quem não os tem? No caso da lagartixa, além de gatos domésticos e de cobras, o maior inimigo é o ser humano. Já peguei muita gente munida de grandes vassouras para dar cabo de uma ou mais lagartixas. Para ser sincera, não entendo bem a razão de tanta aversão e espero que você não passe mal ao ver as fotos. 

“Geco sim”. Porque a natureza agradece.









Renate Esslinger