O quê! Geco?
Com a permissão
dos leitores, mais uma vez não falarei de aves. Decidi defender um bichinho
originário da África, muito comum em todo o território nacional, inclusive em
áreas urbanas.
Geco. Assim
mesmo. Se preferir, taruíra, catonga, briba, biba, osga, sardanisca ou
sardanita. Vulga lagartixa. Em latim a espécie mais comum é denominada hemidactylus mabouia. Ufa, mais designações do que jamais
pensei!
Pertencente
à família gekkonidae (geconídeos) de
répteis escamados, muito provavelmente originária da África, a lagartixa é ágil
pelo chão, mas prefere paredes e consegue até ficar em tetos graças às “forças
de van der Waals”, forças que realmente não pretendo explicar aqui, mas que
você pode entender melhor ao procurar pelo termo na Internet. Fica a seu
critério.
Muitos
qualificam a lagartixa como bicho nojento. Pobre bichinho! Tão limpo, tão
inofensivo, tão útil!
Bastante
higiênico, este pequeno animal não costuma constar da lista de animais
ofensivos à saúde humana. Cabe, no entanto, lavar as mãos após contato com uma
lagartixa. Prevenir sempre é sensato.
Seus
hábitos noturnos são de grande serventia, principalmente para o meio ambiente.
Afinal, a lagartixa funciona como controladora de pragas domésticas. Sabe
aquela aranha e barata que você detesta? Pois é, estes dois pratos são bastante
apreciados pela lagartixa. Escorpiões e os hoje mais do que nunca temidos
pernilongos também fazem parte do menu deste réptil.
Em casa a
varanda torna-se um lugar aconchegante para bons espetáculos após o anoitecer.
Aquele que tem paciência pode observar cenas cômicas e tragicômicas, bem como a
espetacular velocidade de uma lagartixa que só se dá por vencida após devorar o
inseto que virou seu alvo.
Há também
momentos de total concentração e imobilidade por parte da lagartixa (e confesso
que ao observar tal cena quase nem respiro). O inseto acredita estar em local
super seguro e segue seu rumo normalmente. E, repentinamente, o brutal ataque.
Pronto, um inseto a menos para perturbar.
Como a
lagartixa consegue andar no vidro, sempre me divirto ao ver uma através do
vidro de uma janela. Ou seja, eu dentro de casa, ela fora. Na maioria das
vezes, neste caso, à espreita de uma mariposa de porte pequeno ou até médio.
Certamente um jantar diferenciado e que tem de ser consumido lentamente em
função do tamanho da presa. Aliás, por diversas vezes consegui observar que ela
primeiro agita o bichinho na boca para devorá-lo morto ou, ao menos, quase
morto.
Outra
peculiaridade da lagartixa é a capacidade de perder a cauda, ao menos ao sentir-se
ameaçada. Uma forma bem original de enganar os predadores pelo processo que leva
o nome de autotomia. Não é algo que se
vê sempre, mas, acreditem ou não, há dois dias encontrei uma lagartixa sem rabo
na parede do dormitório. Se você precisa ver para crer, espero que as fotos tiradas com e sem zoom sirvam de prova. Um minúsculo elemento numa parede grande e péssima iluminação. Não vale reclamar que falta qualidade. Era tarde e eu ia deitar quando decidi pegar
a máquina fotográfica e fazer o registro. Sonolenta mesmo.
Vamos falar
de inimigos. Quem não os tem? No caso da lagartixa, além de gatos domésticos e
de cobras, o maior inimigo é o ser humano. Já peguei muita gente munida de
grandes vassouras para dar cabo de uma ou mais lagartixas. Para ser sincera,
não entendo bem a razão de tanta aversão e espero que você não passe mal ao ver
as fotos.
“Geco sim”. Porque a natureza agradece.
Renate
Esslinger