terça-feira, 10 de maio de 2016

SÃO MUITAS. E FAZEM VERÃO (Renate Esslinger)

São muitas. E fazem verão.

18 de dezembro de 2015
No mundo são conhecidas aproximadamente 80 espécies de andorinhas, distribuídas por todos os continentes, exceto a Antártida. Independente de seu tamanho, são malabaristas e  num dia bonito é possível observá-las em suas acrobacias aéreas caçando insetos, sendo que um show à parte é proporcionado na época da revoada de formigas e cupins. Certamente um momento para deixar de lado qualquer afazer e simplesmente observar.
Como o outono e inverno em Cunha costumam (ou ao menos costumavam) ser frios, não encontramos muitas andorinhas em nosso jardim nestas duas estações do ano. Quando a primavera se aproxima, chegam de mansinho para nossa alegria. Passadas algumas semanas, elas estão nas frestas do telhado e  nas „casinhas” que improvisamos para elas. Nos vemos então rodeados de uma enorme quantidade de andorinhas dividindo o espaço conosco. Trata-se principalmente da andorinha-pequena-de-casa (Pygochelidon cyanoleuca).
Andorinha 1
Andorinha 2
Nos fios de eltricidade, em árvores e antenas pousam geralmente para decansar ou quando o tempo está ruim. Uma ótima oportunidade para tirar fotos. Aproveito para mostrar fotos tiradas em nosso jardim, bem como fotos feitas durante o verão europeu no Parque Nacional de Hortobágy na Hungria, o qual abriga uma enorme quantidade de andorinhas, segundo pesquisa que fiz, da espécie Hirundo rustica.
No meu lar, doce lar, não canso de observar todos os anos a construção de ninhos pelo macho e pela fêmea. É um tráfego aéreo de grande intensidade, graças a Deus sem colisões registradas, porém com constantes perseguições muito interessantes. É a luta pelo território, pela melhor fresta, pela melhor “casinha”. Tem-se a nítida  impressão de que dobram a velocidade para chegar primeiro.
Interessante é que as andorinhas têm um sentido de orientação muito aguçado e costumam voltar ao mesmo ninho após voar centenas de quilômetros em migrações (vide artigo sobre o andorinhão-do-temporal publicado anteriormente).
Uma andorinha costuma pôr entre 3 a 5 ovos, os quais são incubados pela fêmea, alimentada então pelo macho. Da alimentação dos filhotes cuidam incessantemente o macho e a fêmea durante aprox. 26 dias. Após este período o ninho é abandonado e a família continua unida até que os filhotes sejam completamente independentes.
Observando as idas e vindas ao ninho para a alimentação dos pequenos, bateu a curiosidade e fiz uma rápida pesquisa. Parece inconcebível, mas acredita-se que cada cria de andorinha necessita de cerca de 1.500 insetos por dia para crescer saudável. Ou seja, é certo que tiramos proveito da presença das andorinhas em nosso jardim. Sem as andorinhas e sua habilidade para caçar insetos, o verão na varanda viria acompanhado de muito mais insetos.
Vale ressaltar que na Espanha, por exemplo, desaparecem cerca de um milhão de andorinhas anualmente desde 2004. O técnico da Sociedade Espanhola de Ornitologia, Blas Molina, condena o uso intensivo de inseticidas e herbicidas, responsável por matar o principal alimento das andorinhas – pulgões e insetos voadores. Nas cidades, as novas tendências arquitetônicas constituem ameaça às andorinhas, pois dificultam a construção de seus ninhos.
A andorinha-de-coleira está entre as espécies identificadas como ameaçadas de extinção no Brasil. Como esta ave possui o ciclo de vida ligado às cachoeiras dos rios da Amazônia, é  afetada pelos empreendimentos desenvolvidos nesta região. O ornitólogo Sérgio Borges destacou que “estas aves são muito suscetíveis à pressão que as hidrelétricas vão causar”.
Já ao conversar sobre andorinhas numa roda de amigos, levanta-se de imediato a questão dos  ácaros, também conhecidos como piolhos de andorinhas, que podem acabar nos moradores. Realmente cabe observar o forro da casa e limpá-lo ao menos uma vez ao ano. E para aqueles que optaram por uma construção que inviabiliza a construção de ninhos, sugiro improvisar “casinhas” que possam ser usadas para seus ninhos. Assim podemos tê-las por perto sem que sejamos diretamente importunados. Acabar definitivamente com a presença de andorinhas nas proximidades de sua residência pode contribuir para um eventual declínio de sua população, o que certamente será negativo a médio ou longo prazo.
O tempo voa. Respiro fundo para sentir o perfume da primavera e calmamente aguardo o verão que sorrateiramente mais uma vez se aproxima, anunciando o Natal e um novo ano.
No livro “Ética a Nicômano” Aristóteles escreve que “uma andorinha só não faz primavera”. A frase foi adaptada e hoje costumamos dizer que “uma andorinha só não faz verão”, significando, entre outros, que temos mais força em grupo do que sozinhos.
Aproveito para desejar a todos um Feliz Natal e um novo ano repleto de saúde, alegria e sabedoria para uma convivência pacífica, inclusive com a maravilhosa natureza que nos cerca.
Somos muitos, são muitas as andorinhas. Elas fazem verão e nós podemos fazer nosso mundo ficar melhor.

Até 2016!

Renate Esslinger
(Fotos: Árpád Cserép)

Um comentário para “São muitas. E fazem verão.”

  1. Dulce Diz:
    Texto providencial, obrigada! Andava ne perguntando que passarinhos preto-e_brancos eram aqueles pousados no topo da parede logo abaixo do beiral do telhado…
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