terça-feira, 14 de junho de 2016

AONDE VAI COM TANTA PRESSA?

Renate Esslinger fala sobre pressa desnecessária
(Nota da Redação: Devido à importância da reflexão proposta pela autora, a editoria do Canal 39 promove o destaque, novamente, em respeito a todos quantos estão se manifestando nos comentários de rodapé. Dona de incrível sensibilidade para com as coisas aparentemente sem importância, Renate destaca, neste artigo, a voracidade dos pés nos aceleradores, a ansiedade de muitos condutores em querer alcançar o fim da viagem sem respeitar o meio e os entremeios naturais de qualquer jornada).

Moro no interior e resolvo quase tudo localmente.
Pouco saio da cidade de aproximadamente 23.000 habitantes. Quando saio, pego muitas vezes ônibus. Mas ainda sobra um ou outro percurso que faço num jipe antigo, russo, o automóvel ideal para a maioria das estradas da região.
Há muito tempo a Rodovia Paulo Virgínio, entre Cunha e Guaratinguetá, precisa de cuidados bastante especiais e há algum tempo a estrada vem sendo, finalmente, consertada, alargada, melhorada. Não olho mais para trás, fico feliz e ponto final.
Um dia desses, rumando sozinha e cedinho em meu carro para Guaratinguetá,  fiquei assustadíssima com o que encontrei no caminho. Motoristas ultrapassando sem ter qualquer visibilidade. Havia neblina densa. Quem conhece a estrada, sabe que ela tem uma série de curvas bastante perigosas.
Também não faltaram motoristas com complexo de corredor de Fórmula 1, tão alta a velocidade em que dirigiam seus veículos numa ou outra reta do percurso. Pior é que nesta manhã havia gente trabalhando na pista, gente que precisa e quer voltar para casa no final do dia e não ser atropelado por um sujeito com pressa.  Para ser bem honesta, me aborreci com a falta de respeito dos motoristas.
Talvez nem todos saibam, mas o limite de velocidade nesta rodovia varia de 40 a 80 km/hora. E, como já comentei, ela se encontra em fase de renovação. Nem quero pensar o que acontecerá quando ela estiver nova em folha, de cabo a rabo. Correremos então todos mais ainda, brincando com a vida daqueles que pretendem continuar vivos?
E tem apressado por todos os lugares, infelizmente. Quando peguei a estrada para Campos Novos por causa da campanha “Canto sem Fronteira”, também passei apertado com os apressados, na ida numa quinta-feira de manhã e na volta numa sexta-feira à tarde.  Uma estrada asfaltada e relativamente boa, mas muito sinuosa, onde todo cuidado é pouco. Deparei com caminhões de diferentes portes,  inclusive carregados de madeira, carros de passeio de todas as idades e cores, quase todos, o tempo todo, fora de suas pistas, “comendo” sempre uma boa parte da outra pista. Diga-se de passagem que a estrada tem boa demarcação!
E eu que pensei que em estradas do interior a coisa pudesse ser bem diferente! Que nada, pura ilusão de quem acredita no bom senso das pessoas, bom senso que parece desvanecer.
Sei que temos a impressão de que o tempo voa.  Acreditamos quase sempre que deixamos coisas demais para fazer no dia seguinte, no ano seguinte. Tudo porque eventualmente não fomos ágeis ou rápidos o suficiente para dar conta do recado. Pensando bem, a maioria de nós quer sempre estar  à frente do tempo. Em outras palavras, acabamos por fazer  quase tudo voando e na ilusão de que assim conseguimos alcançar o tempo e ultrapassar o tique-taque do relógio. Doce ilusão!
A pressa certamente já devorou infinitas almas inquietas, rasgou roupas, estragou maquiagens,  cortou dedos, desafinou concertos. Pior de tudo é que certamente cada um de nós conhece alguém que foi morto pela pressa, esta assassina sem culpa. Culpado é aquele que deliberadamente resolve correr.
O ano de 2012 pode ter voado. Não faz mal, é hora de arregaçar a manga novamente e abraçar o novo ano. Sugiro que cada um de nós tente simplesmente viver sem pressa, principalmente quando estiver na estrada. Assim chegaremos todos. Afinal, aonde você vai com tanta pressa?
Renate Esslinger colabora com o Canal 39, no espaço Câmera ao Alvo!

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