terça-feira, 14 de junho de 2016

DE LACRE SIM, LACRADO NÃO

Um barulho diferente, sem dúvida advindo de um bando de aves num pedacinho específico do terreno. De mansinho nos aproximamos e verificamos tratar-se de uma ave com muito charme, especialmente pelo tom de seu bico e da risca ao redor dos olhos. Cerca de seis indivíduos de aprox. 12 cm de comprimento fazem a festa no pequeno capinzal.Assim foi  nosso primeiro encontro.
Recorremos ao nosso livro e lá este ele, o bico-de-lacre, cientificamente conhecido como estrilda astrild,em Minas Gerais como beijo-de-moça, em Santa Catarina como bico-de-lata e no Espírito Santo como bombeirinho. Um pássaro presente em todas as regiões do Brasil.
Bastante semelhantes às fêmeas, os machos possuem um tom mais avermelhado no peito e a base inferior da cauda é preta. Nada que possamos ver de imediato, mas com um pouco de observação é possível distinguir o macho da fêmea. O filhote tem, entre outros, o bico preto.
Adulto e filhotesPassados alguns meses, percebemos no início do ano um casal de bico-de-lacre ocupado em construir um ninho nas proximidades de nossa varanda. Atenção redobrada, do casal e nossa.
Localizamos o ninho em uma buganvília de médio porte, mas não pudemos contar os ovos porque o bico-de-lacre faz seu ninho de forma esférica ou oval, com paredes grossas, acessível por um tubo estreito. É para ninguém bancar o intrometido.
Casal namorando
Enquanto aguardávamos os rebentos, a máquina fotográfica registrou diversos momentos do exuberante casal. Também fizemos a nossa lição de casa e confirmamos que nosso novo inquilino foi introduzido no Estado de São Paulo por volta de 1870, trazido da África Meridional. Portanto, uma espécie exótica. Sorte a dele que seu principal alimento, o capim-colonião, também foi introduzido no Brasil por meio dos colchões dos escravos africanos, preenchidos com este capim.
bico-de-lacre próximo ao ninho
Numa bela manhã de muito sol e calor atípico no final de janeiro, sem qualquer aviso prévio, uma cantoria diferente, quase infernal. Corremos ambos para identificar o que estava acontecendo. Era o bico-de-lacre com seus filhotes fazendo a maior algazarra, uma forma bastante eficaz de chamar a atenção para os rebentos que acabavam de deixar o ninho. Entendemos perfeitamente que não pretendiam partir mundo afora sem uma despedida adequada. Câmera ao alvo, mais uma vez.
FilhoteEsperamos poder matar a saudade em breve, assim que este casal e seus filhotes crescidos decidirem retornar acompanhados de tantos outros, já que gostam de viver em pequenos bandos. Com alegria receberemos a todos e quem sabe seremos brindados com mais um ninho e muita cantoria. Para o deleite de todos, o bico é de lacre, mas lacrado não.
Texto: Renate Esslinger
Fotos: Árpád Cserép

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