terça-feira, 14 de junho de 2016

ATÉ A VOLTA, AMIGOS!

Meu marido e eu adoramos receber visitas. Há os que chegam para passar dois dias, há aqueles que preferem um final de semana prolongado e tem até gente que vem de outro continente e passa um período mais longo conosco.
Hoje vou me ater a um casal que aterrissou (literalmente) em casa em novembro, inesperadamente para ser bem sincera. Sem mais nem menos. Como foram relativamente discretos, demoramos para perceber que tínhamos companhia.
01Custou um pouco, mas localizamos o alojamento deles. Estavam dentro da chaminé, acho que da metade para cima. Munidos de muita curiosidade, resolvemos averiguar de perto. Como nossa lareira é enorme e permite que uma pessoa fique de pé dentro dela, usamos uma lanterna e conseguimos avistar o casal, bem como um ninho com 6 ovos brancos, relativamente grandes. Ficamos surpresos, mas tínhamos certeza de que passaríamos maravilhosas horas aguardando os rebentos.
02No início de dezembro, alvoroço em dobro na chaminé. Após um período de aprox. 25 dias de incubação, filhotes famintos piavam sem parar. Afinal, quem tem fome abre o bico e não poupa o ouvido de ninguém, em momento algum.
O Natal se aproximava e continuávamos sem definição quanto à espécie que se alojava em nossa casa em época tão festiva. Os “pequeninos” cresciam e a cantoria provocada pela fome continuava. Testemunhamos incansáveis idas e vindas dos pais, sempre preocupados em alimentar adequadamente os rebentos.
03Como vocês podem imaginar, meu marido registrou diversos momentos ao longo do tempo, sempre de dentro da lareira. Com uma das mãos levava para o alto da chaminé o monopé com a máquina fotográfica e com a outra efetuava o disparo com o controle remoto.  04
Passado o Natal, decidimos enviar algumas fotos para o fotógrafo Edson Endrigo, especializado em aves. A resposta veio rapidamente e resolvido estava o mistério em torno de nossos visitantes. Chaetura meridionalis, eis o nome da ave em latim. Em português, andorinhão-do-temporal.
05Trata-se de uma ave com aprox. 11 cm de comprimento, asas longas e cauda relativamente curta, considerada bastante vocal, cuja alimentação são insetos capturados durante o voo.
Seus ninhos, construídos com ramos secos, unidos por saliva, são fixados internamente nas chaminés das residências ou outras construções, bem como em troncos ocos de árvores. Costumam botar de 3 a 4 ovos, mas nossas fotos provam que este número pode chegar a 6.
06Quanto ao ninho, confesso que ficamos boquiabertos. Toda vez que lançávamos nosso olhar para os ovos e mais adiante para os filhotes, temíamos que tudo e todos viessem abaixo. Como sempre gostamos de oferecer conforto e segurança aos hóspedes, pensamos até em forrar o chão da lareira para o caso de um acidente. Obviamente não passou de uma ideia maluca.
O tempo passou e felizes entramos no novo ano. Nossos hóspedes certamente não perceberam a virada do ano e continuavam firmes e fortes no alojamento que haviam escolhido já fazia aprox. um mês. Entrementes, cobríamos o chão da lareira com jornais por razões bastante óbvias e a limpeza era efetuada com frequência. No início de cada noite éramos brindados com muita cantoria. Não se tratava mais de “pequeninos” piando sem parar, era a família entoando melodias harmoniosas, calmantes.
07Em 13 de dezembro, reboliço geral. Dois filhotes resolveram fazer um voo de reconhecimento da sala no início da noite, provavelmente para matar o tédio causado pelas paredes da chaminé. Um deles acabou voltando rapidamente para seu alojamento, mas o segundo parecia disposto a dar um giro maior pela casa. Tivemos de interferir, inclusive para evitar que se ferisse. Uma vez seguro nas mãos de meu marido, tirei uma foto de perto e pudemos nos certificar da “graça” da espécie. Em seguida o pequenino foi recolocado na chaminé.
Em 19 de janeiro nossa última foto. Mas não pensem que a família saiu em retirada. Nada disso. Pais e filhotes saíam todas as manhãs e retornavam no final da tarde para o merecido descanso. Compreendemos então que nossa chaminé havia sido transformada no lar de uma pequena família feliz.
Com esta certeza, começou nossa preocupação em relação à funcionalidade de nossa lareira. Tudo começou com ovinhos em novembro e era início de abril. E se fizesse bastante frio? Como poderíamos acender a lareira? No mínimo espantaríamos os pássaros e deixaríamos de ser bons anfitriões. Prejudicaríamos nossa reputação.
Resolvemos “desligar” e aguardar. Deu certo, pois a natureza deu conta do recado. O andorinhão-do-temporal é uma ave migratória no Sul e Sudeste, desaparecendo durante o outono/inverno para procurar áreas mais propícias para alimentação. Será que a família anotou direitinho nosso endereço? Sou otimista. Até a volta, amigos!
Texto: Renate Esslinger
Fotos: Árpád Cserép.
NOTA DA REDAÇÃO:
Os autores dos artigos e fotos da coluna "Câmera ao alvo!" são merecedores de nosso aplauso e todo o carinho pelo cuidado com o qual elaboram cada nova contribuição enviada ao Canal39.
Essa ação de divulgar as maravilhas da Natureza, exercendo a plena sensibilidade, muito enriquece a vida daqueles tantos que podem ter acesso a esse trabalho magnífico.
Parabéns e obrigado, Renate e Árpád.
Marcos Ivan de Carvalho
Diretor

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