terça-feira, 14 de junho de 2016

COLEIRINHO, PRETO NO BRANCO

Já faz algum tempo, mas recordar é viver.
Numa bela manhã de fevereiro a varanda recebeu visitantes muito charmosos e nossa rotina tomou novas dimensões.
Entre os diversos tipos de acomodação que oferecemos, o casal ficou com a falsa-violeta-africana  (streptocarpus saxorum). Uma escolha sábia para quem estava determinado a construir um aconchegante ninho.
Decidimos observar tudo bem de perto e garantimos que foram incansáveis idas e voltas, sempre algo minúsculo no bico do macho ou da fêmea para dar forma e acabamento ao ninho.  Durante aprox. 2 semanas a comunicação entre o macho e a fêmea foi constante. Eram melodias distintas, dele e dela, apesar de constar que a fêmea não é canora. O macho, sempre muito atento,  espantava, sem titubear um segundo sequer,  os concorrentes que chegavam perto demais. De certa forma reinava harmonia e ao anoitecer o casal se despedia da varanda para dormir o merecido sono no bambuzal. Completado o ninho, dois ovos passaram a ser chocados pela fêmea e valentemente defendidos pelos pais contra predadores. Persistência não faltou, nem nossa em observar o casal.
Coleirinho macho (Foto: Árpád Cserép)
Coleirinho macho (Foto: Árpád Cserép)
Cerca de duas semanas se passaram e os filhotes puderam ser avistados no ninho. A varanda ganhou mais vida ainda, pois pais e filhotes passaram a pousar pertinho de nós e bicos famintos eram alimentados incansavelmente. Um casal exemplar, não há dúvida.
coleirinho (Sporophila caerulescens) mede cerca de 11 cm de comprimento, sendo que o macho tem a parte superior cinza-escura, face, garganta e colar negros, ventre branco ou amarelado. A fêmea é pardacenta e muito similar à fêmea do bigodinho (http://www.canal39.com.br/camera-ao-alvo/).
O bico forte desta espécie facilita quebrar as sementes, sua principal alimentação.  O nome popular papa-arroz vem do hábito de usarem plantações de arroz como fonte de alimentação.  Além do arroz, adaptaram-se às várias gramíneas trazidas da África e a braquiária parece ser a base de sua alimentação em áreas alteradas pelo homem. O peso reduzido permite a esta ave alcançar as sementes de gramíneas trepando pela haste das plantas.
Fêmea do coleirinho (Foto : Árpád Cserép)
Fêmea do coleirinho (Foto : Árpád Cserép)
Fora do período reprodutivo é uma ave de comportamento gregário, vivendo em grupos de 6 a 20 indivíduos. Forma inclusive grupos mistos com outras espécies de papa-capins e tizius.
Seu canto é muito apreciado e a captura indiscriminada constitui sua principal ameaça, o que me leva  a pôr, mais uma vez, o preto no branco.
As populações mais meridionais são migratórias e deslocam-se para latitudes mais baixas nos meses mais frios. Nenhum coleirinho por aqui hoje. É agosto, o frio chegou à cidade de Cunha.
por Renate Esslinger

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