terça-feira, 14 de junho de 2016

NEM SÓ DE FUBÁ

Popular e estimado ele é, ninguém duvida. Até tema de um conhecido choro de Zequinha de Abreu ele virou. Tem jeito de malandro, chega a ser atrevido.
Nomes não tem poucos, a começar pelo científico: Zonotrichia capensis. Também é conhecido por salta-caminho, mariquita-tio-tio, maria-judia, Jesus-meu-Deus, piqui-meu-Deus, toinho e na minha terra, Paraná, eles o chamam de tiquinho. Para mim, simplesmente perfeito e adequado.
(Foto: Árpád Cserép)
(Foto: Árpád Cserép)
De porte médio com seus 15 cm de comprimento, distingue-se pela sua coloração rajada de marrom, negro e cinza. O charme todo fica por conta de seu topete. Não há dimorfismo sexual evidente, mas as fêmeas costumam ser um pouco menores e ter coloração mais apagada.
Sua familiaridade com os humanos e seu canto melodioso fazem dele um pássaro venerado por crianças e adultos, apesar de que muitas vezes, sem razão aparente, ele é confundido com o pardal.
tico tico002Tenho para mim que ele está sempre em espírito de festa, não importa se a dois ou em grupo. Quando não quer companhia, costuma fechar a cara, vestir sua roupa de briga e defender seu território com veemência. Prova de que tamanho não é documento. Pode ser visto em paisagens abertas, plantações, jardins, pátios e coberturas ajardinadas de edifícios. Em suma, qualquer cantinho vira seu lar, doce lar e qualquer cozinha aberta pode ser sua praça de alimentação.
tico tico001Sementes, brotos, frutas e insetos fazem parte de sua dieta alimentar. Cá entre nós, ele não é nada seletivo. Come de tudo e mais um pouco, ao menos no território ao alcance de minha vista. As demais aves precisam ficar bem espertas, pois do contrário não sobra nada para elas.
Traço interessante deste pequeno e ágil pássaro é a técnica de esgravatar alimento no solo por meio de pequenos pulos. Desta forma ele remove a camada superficial de folhas ou terra solta que recobre o alimento e podemos ter a impressão de que ele está dançando. Confesso que já vi coreografias melhores, mas sua apresentação não deixa de ser curiosa.
O tico-tico é a principal vítima do chupim (Molothrus bonariensis), que costuma botar seus ovos no ninho do tico-tico, que os choca e alimenta como se fossem seus. Chego a ficar revoltada com o abuso dos pequenos chupins, definitivamente maiores que a „mamãe”, implorando por comida o tempo todo e durante um período bem longo.
Há informação de que a população do tico-tico tem decaído em alguns locais e esta redução é atribuída, entre outros possíveis fatores, ao aumento na população do chupim. No entanto, fico bastante aliviada em saber que foi classificado como espécie em condição pouco preocupante e estima-se que sua população possa chegar a 50 milhões de indivíduos.
É primavera. Ao meu redor tem tico-tico „dançando”, tem chupim clamando por comida. De forma magistral a natureza se exibe à procura de seu equilíbrio. Como espectadora aplaudo o grande espetáculo ao ar livre. Não interfiro, apenas observo e registro que nem só de fubá vive o tico-tico.
A fim de evitar mal-entendidos, mantenho a porta da cozinha fechada.
(por Renate Esslinger)



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